Por: Valéria Queiroz Menezes
“[...] construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de
mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos
meus sentimentos e idéias, os escreveria”.
(Fernando Pessoa)
RESUMO
Propõe-se ao longo desse trabalho
investigar, identificar e destacar quais as especificidades estéticas presentes
nas poesias Passagens das horas, Eu nunca guardei rebanhos e Para ser grande ser inteiro, ambas de
autoria dos principais heterônimos de Fernando Pessoa, respectivamente Álvaro
de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis; definir o conceito de heteronímia,
bem como, situar a obra de Pessoa no período literário que se insere - o Modernismo;
apresentar também as características desses heterônimos, como metodologia de
análise das poesias e para a montagem de uma sequência didática para aplicação
na disciplina Literatura.
Palavras-chave:
Literatura, Fernando Pessoa, heterônimos.
Resumen
Proponerse en este trabajo investigar, identificar y
destacar cuales son las especificidades estéticas presentes en las poesías Passagens das horas, Eu nunca guardei rebanhos y Para ser grande ser inteiro, ambas de
autoría de los principales heterónimos de Fernando Pessoa, respectivamente Álvaro de Campos, Alberto Caeiro y Ricardo
Reis; definir el concepto de heteronimia, también, situar la obra de Pessoa en
el periodo literario que se insiere – el
Modernismo; presentar también las
características de eses heterónimos como
metodología de analice de las poesías
para montaje de una secuencia didáctica para aplicación en la disciplina
Literatura.
Palabras – clave: Literatura,
Fernando Pessoa, heterônimos.
A leitura é uma atividade importante para a
vida no homem em sociedade, por isso têm surgido muitas discussões em torno da
sua relevância para a formação de leitores e cidadãos críticos. A leitura
possibilita ao homem a inserção e participação no meio social e não está
limitada apenas no âmbito escolar, mas deve ser uma prática social. O aprendizado da leitura é uma tarefa contínua
e permanente, que é enriquecida com novas habilidades, à medida que
compreendemos textos escritos mais complexos. Lista (1996, p. 10) afirma que a
“verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio”, pois
não lemos “apenas a palavra escrita, mas também o próprio mundo que nos cerca”.
O sentido de um texto não está em si mesmo, sofre influências do conhecimento
de mundo de que o leitor dispõe, assim, à proporção que vai lendo, vai
antecipando e inferindo sobre o conteúdo. O interesse pela leitura pode estar
relacionado ao texto, oriundo de uma necessidade seja ela informativa ou
recreativa. Assim, a compreensão perpassa por um processo estratégico
individual. É evidente que a importância da leitura no universo do aluno,
abrange questões muito mais profundas, porque deve ser vista como uma das
conquistas do homem no seu processo evolutivo. Nesse sentido, significa que
toda sociedade, nas suas diferentes etapas evolutivas, produz uma memória
cultural e que a leitura vem a ser um dos instrumentos para o conhecimento. É
nessa perspectiva, que elaboramos uma proposta para trabalhar com o grande
autor Português Fernando Pessoa, a partir de estudos e analise sobre o processo
da heteronímia. O trabalho tem como objetivo geral levar a conhecer as
características temáticas, estilística dos heterônimos: Alberto Caeiro, Ricardo
Reis e Álvaro de Campos e relacionar com o período estético literário do
Modernismo Português. E como objetivos específicos: Analisar o fenômeno da
heteronímia; investigar as diferenças e semelhanças que há entre a produção de
Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, ambos heterônimos de Fernando
Pessoa; verificar os traços marcantes da poesia do autor e sua relação com os
sentimentos da contemporaneidade e aplicar os conhecimentos em uma sequência
didática no Programa Universidade para Todos, no sentido de preencher lacunas
deixadas ao longo da vida escolar do aluno, que inviabiliza o conhecimento mais
profundo da obra desse grande autor.
A escolha do autor se deu pela relevância
da sua obra, além disso, Pessoa possui um estilo ímpar na literatura,
revolucionou inteiramente o ambiente literário português, no início do século
XX que estava carente de escritores que dessem continuidade à glória de grandes
autores como Antero de Quental e Eça de Queirós, isto porque cria não somente
outros escritores – os heterônimos – mas também apresenta estilos diferentes de
escrita, fenômeno totalmente inédito, naquela época, em Portugal. Nesse sentido, pensava o mundo noutra
perspectiva: ele cria novas personagens para que esse mundo seja lido de
maneiras diferentes. Trabalhar sua obra é buscar incessantemente o filósofo por
trás do escritor. Assim, esse trabalho tem, pois, o objetivo de identificar as
diferenças e similitudes dos principais autores criados por esse autor português
– seus heterônimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, posto que,
sua obra joga com a pluralidade de representações e de sentidos para uma visão
mais poética do mundo: expressam muito mais que um plano estético remete uma
configuração arquetípica e mítica.
Pessoa, em seus outros “eus”
produz uma imagem do mundo em diversos olhares: a de um pastor de ovelhas,
Alberto Caeiro, cuja vida representava o sentir; Ricardo Reis, discípulo de
Caeiro, procura atingir o equilíbrio e a paz sem sofrer, através da
autodisciplina e Álvaro de Campos, que aprende com Caeiro a urgência de sentir.
Campos é visto por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, seus poemas exaltam
não somente o tom futurista a civilização moderna como também os valores do
progresso. Nessa perspectiva, o poeta faz nascer dentre outros três diferentes
personagens para expressar suas diversas formas de pensar o mundo, e apresenta
como cada um possui sua própria ótica. Portanto, estudar Pessoa é estudar a
diversidade de sentimentos e de emoções em relação à vida e ao mundo, visto ser
ele o autor dos casos mais complexos e estranhos, senão único, dentro da
Literatura Portuguesa. Passado mais de trinta anos da sua morte, a obra de
Fernando Pessoa ainda intriga os estudiosos
porque além de possuir pontos de comunhão com as
obras de Camões, Bocage, Antero, João de Deus, Cesário Verde, Camilo Peçanha,
etc., se apresenta carregada de densa
problemática, enriquecendo a velha herança recebida de tal modo que alcançou um
feito semelhante ao de Camões que acabou recebendo o epíteto camoniano. É pela singularidade desse autor, que multiplicou
sua voz poética em outras vozes diferentes dentro do mundo imaginário da
Literatura, se faz de extrema relevância que se faça a análise desses
heterônomos juntamente com os alunos do Programa Universidade para Todos
viabilizando um maior aprofundamento do conhecimento prévio destes.
Partiremos da hipótese que o conhecimento
das especificidades da poesia heteronímica de Fernando Pessoa pode favorecer o entendimento a
cerca de sua obra e das características do Modernismo Português bem como
ampliar o universo literário dos alunos.
Para o desenvolvimento deste trabalho, a metodologia conta a
princípio com a pesquisa bibliográfica de autores que nos dão suporte para a
análise e compreensão desta proposta. Como trata de um autor de grande
relevância na literatura poética, importa para nós, buscar além das obras,
análises a respeito de suas características situá-lo no espaço temporal, mas
principalmente pautar a pesquisa pelo fenômeno heteronímico. Essa temática
requer um estudo aprofundado a respeito dos seus autores e a vinculação destes
ao ortônimo Fernando Pessoa, o seu criador.
Para o desenvolvimento dessa etapa a metodologia será a
leitura e análise dos poemas: Passagem
das horas, de Álvaro de Campos; O
Guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro e Para ser grande sê inteiro, de Ricardo Reis.
Feita a seleção bibliográfica de autores que respaldem nossa
hipótese, faz-se necessária a seleção do corpus
e em seguida análise comparativa de textos dos referidos heterônimos. Por fim a
elaboração de uma sequência didática para apresentar o autor, suas
especificidades estéticas, definir o conceito de heteronímia, bem como situar a
obra no período literário em que está inserida: Modernismo.
Heterônomo é um nome fictício adotado por um autor na
assinatura de uma obra que possui uma personalidade própria e uma obra distinta
do seu próprio criador. Não deve ser confundido com pseudônimo. Segundo
Fernando Pessoa (Tábua Bibliográfica, Presença, nº 17)
A obra pseudônima
é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterônima é do autor
fora da sua pessoa; é duma individualidade completa fabricada por ele, como
seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.
Pessoa
criou inúmeras personalidades literárias para além da sua, cada um deles possui
sua própria biografia, sua temática poética e seu estilo. É como se seus eus
fragmentados e múltiplos explodissem dentro do artista, gerando poesias
totalmente diversas. Os heterônimos se originam, segundo o próprio autor, da
sua tendência para a constante despersonificação e simulação. Trata-se de um
processo de desdobramento premeditado da personalidade como um meio de criação
de um novo autor, com nova identidade estilística, ideológica, cultural, etc.
Dentre
as personagens heteronímicas criadas por Pessoa, Caeiro é considerado mestre de
todas elas, ele assume, em sua raiz, o problema da irreversível separação entre
a palavra e o mundo, entre o verbo e o homem, determinando a impossibilidade
total de conhecimento da realidade.
Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a
sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução
primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo
de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu
tuberculoso.
Pessoa cria uma biografia para Caeiro que se encaixa com perfeição à sua
poesia, como podemos observar no “O Guardador de Rebanhos”, que Segundo Pessoa,
foi escritos na noite de oito de março de 1914, de um só fôlego, sem
interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exatamente a busca
fundamental de Alberto Caeiro: completa naturalidade. Nasceu em Lisboa,
em abril de 1889, e faleceu de tuberculose e, 1915 na mesma cidade. Viveu
grande parte da sua vida numa quinta no Ribatejo aonde viria a conhecer Álvaro
de Campos. A sua educação cingiu-se à instrução primária, o que combina
simplicidade e naturalidade de que ele próprio se reclama. Louro, de olhos
azuis, estatura média, um pouco mais baixo que Ricardo Reis. Morreu
precocemente (tuberculoso), em 1915. A vida foram seus poemas, aparece a
Fernando Pessoa no dia 08 de março de 1914, de forma não planeada. Teve dois
discípulos: Ricardo Reis e Álvaro Campos. Poeta da simplicidade completa e clareza
total. É o homem da calma absoluta perante o não-sentido da realidade. “Há
metafísica bastante em não pensar em nada [...] O único sentido íntimo das
coisas. É elas não terem sentido íntimo nenhum”. Caeiro
escreve com a linguagem simples e o vocabulário limitado de um poeta camponês
pouco ilustrado. Pratica o realismo sensorial, numa atitude de rejeição a
poesia simbolista. Alberto Caeiro
apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos” que só vê de forma
objetiva e natural a realidade. O Mundo é visto sem necessidade de explicações,
sem princípios nem fim e por isso acredita na “eterna novidade do mundo”.
Recusa o pensamento metafísico Insistindo naquilo a que chama “aprendizagem de
desaprender” isto é, aprender a não pensar, para se libertar de todos os
modelos ideológicos, culturais ou outros, e poder ver a realidade concreta. O
pensamento, segundo Caeiro gera a infelicidade porque deturpa o significado das
coisas que existem, “pensar incomodo como andar à chuva quando o
vento cresce e parece que chove mais”. Opõe a metafísica o desejo de não
pensar. Faz da oposição à reflexão a matéria básica das suas reflexões, “Metafísica?
Que metafísica têm aquelas árvores?” Relação direta entre sujeito poético e a
natureza que revela-nos um ser em paz, reconciliado consigo e com o mundo. Melhor interpretou o Sensacionalismo. Só lhe
interessa vivenciar o mundo que capta pelas sensações – realismo sensorial. O
único sentido oculto das coisas fica reduzido à própria percepção: cor, forma e
existência. Representou a reconstrução integral do paganismo.
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
No
fragmento acima o paganismo de Caeiro intensifica-se. Observe que Cristo é
destituído de santidade, ou seja, é visto como uma criança normal: brincalhona,
alegre e levada.
Caeiro coloca-se, como inimigo do misticismo. Opõe a metafísica o desejo de
não pensar. Faz da oposição à reflexão a matéria básica das suas reflexões. Aparente simplicidade: linguagem corrente e
construções causais. Plano formal: Linguagem simples, léxico objetivo,
adjetivação quase ausente; paralelismo, assíndetos1, predominância
das formas verbais no presente do indicativo. Plano fônico: ritmo lento;
alternância entre sons nasais e vogais abertas e semi-abertas; ausência de
rima.
1ausência da conjunção coordenativa a ligar grupos de palavras ou orações
coordenadas.
Os principais temas da obra de
Caeiro são: Panteísmo sensual (Panteísmo: doutrina segundo a qual Deus não é um ser
pessoal distinto do mundo: Deus e o mundo seriam uma só substancia); deambulismo
(vida errante), misticismo naturalista (amor pelas coisas em si mesmas), recusa
do pensamento, combate à introspecção e à subjetividade; objetivismo absoluto,
integração e comunhão com a natureza; vivencia do presente, gozando em cada
impressão o seu conteúdo original (epicurismo); crença na eterna novidade das
coisas e das idéias; a criança como símbolo supremo da vida; sensacionalismo:
preferência pelas sensações visuais e auditivas e paganismo.
Embora herdeiro da sensibilidade objetiva de seu mestre Ricardo Reis não
está empenhado, como aquele, em objetivar sua linguagem, mas em expor e
vivenciar poeticamente os preceitos básicos da filosofia pagã. Poeta da simplicidade completa e clareza total. É o homem da
calma absoluta perante o não-sentido da realidade Opõe a metafísica o desejo de não pensar. Faz da
oposição à reflexão a matéria básica das suas reflexões. “Há metafísica bastante em não pensar em nada [...] O único
sentido íntimo das coisas. É elas não terem sentido íntimo nenhum”. Nasceu em
Porto, no dia 19 de setembro de 1887; recebeu uma forte educação clássica num
colégio de jesuítas; formou-se em medicina, profissão que exerceu; mudou-se
para o Brasil em 1919, pois se expatriou espontaneamente; não se sabe ao certo
o ano de sua morte. Segundo Pessoa, “Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco,
mais baixo, mais forte, mais seco (que Caeiro).Cara rapada (... ) de um vaga
moreno mate.”
Em 1924 foram
publicadas suas primeiras obras na revista Athena, fundada por Fernando Pessoa;
entre 1927 e 1930 foram publicados oito odes na revista Presença, de Coimbra. Discípulo
de Caeiro admira a calma e a serenidade com que o mestre encara a vida. Reis
procura atingir o equilíbrio e a paz sem
sofrer, através da autodisciplina e das seguintes doutrinas gregas. Adepto ao
Epicurismo e ao Estoicismo, não teme a morte; procura os simples prazeres da
vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro (carpe diem) e foge da
dor. Tem como ideal ético a apatia; acredita que para alcançar a felicidade é preciso: dominar as paixões e aceitar a ordem universal das coisas,
incluindo a morte. Ricardo Reis é o heterônimo mais clássico de Fernando
Pessoa. Seu estilo poético faz muitas alusões à mitologia com uma linguagem
culta e precisa. Seus poemas são metrificados e apresentam uma sintaxe
rebuscada. Seus poemas são odes, poemas líricos de tom alegre e entusiásticos,
tendo estrofes regulares e variáveis. “Pus em Ricardo
Reis a minha disciplina vestida da música que lhe é própria. Reis escreve melhor do que eu, mas com um purismo
que considero exagerado.“ (Fernando Pessoa). Reis recorre sempre aos deuses da
mitologia grega, para ele os deuses estão acima de tudo. Dono de um paganismo de caráter erudito, Reis acredita que Cristo é
apenas mais um deus, nem superior e nem inferior. Porém, os cristãos querem
colocá-lo acima dos outros deuses.
NÃO A TI, Cristo, odeio ou
menosprezo
Que aos outros deuses que te
precederam
Na memória dos homens.
Nem mais nem menos és, mas outro
deus ...”
(fragmento NÃO A TI, CRISTO,ODEIO...)
Álvaro de Campos (1890 - 1935) é um dos mais conhecidos
heterônimos de Fernando Pessoa. Foi descrito biograficamente por Pessoa:
"Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado
para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas
férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em
Lisboa em inactividade”. Usa monóculo; é alto (1.75 m); magro, cabelo liso
apartado ao lado e tem a cara rapada, tipo judeu português. Segundo Fernando
Pessoa, esse heterônimo surge quando sente “um impulso para escrever”. Campos é
o extremo oposto de Ricardo Reis e
discípulo de Caeiro. Campos é o
filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. Aprende com
Caeiro a urgência de sentir, é visto por Pessoa como vanguardista e
cosmopolita; seus poemas exaltam em tom futurista a civilização moderna e os
valores do progresso.
Os traços poéticos de Álvaro de Campos: poeta modernista;
sensacionista (odes); cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode
Triunfal”); cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode
Marítima”). Cultua as sensações sem limite, é o poeta do verso torrencial e
livre em que o tema do cansaço se torna fulcral; defensor da condição humana
partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”);
observador do cotidiano da cidade através do seu desencanto e poeta da angústia
existencial e da auto-ironia.
A primeira fase da sua produção poética é tem por
característica o decandentismo: exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a náusea,
o abatimento e a necessidade de novas sensações; traduz a falta de um sentido
para a vida e a necessidade de fuga à monotonia; marcado pelo romantismo e simbolismo
(rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens); abulia, tédio de viver;
procura de sensações novas; busca de evasão; único poema dessa fase: Opiário.
A segunda fase de sua produção poética é caracterizada pelo
futurismo sensacionalista as quais possui os seguintes traços: elogio da
civilização industrial e da técnica; ruptura com o subjetivismo da lírica
tradicional; atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida. Na poesia
de Campos é nítido o sensacionismo, vivência em excesso das sensações (“Sentir
tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro); sadismo e masoquismo
(“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os
perfumes de óleos e calores e
carvões...”, Ode Triunfal); cantor lúcido do mundo moderno.
O pessimismo também é uma marca na obra de Álvaro Campos, caracterizada
pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia,
desânimo e frustração; dissolução do
“eu”; a
dor de pensar; conflito entre a
realidade e o poeta; cansaço, tédio,
abulia; angústia existencial; solidão; nostalgia da infância
irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na
algibeira!”, Aniversário) face á incapacidade das realizações, sente-se
abatido, vazio, um marginal, um incompreendido; frustração total: incapacidade
de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior.
Sua poesia possui os seguintes traços estilísticos: Verso
livre, em geral, muito longo; assonâncias, onomatopéias (por vezes ousadas),
aliterações (por vezes ousadas); grafismos expressivos; mistura de níveis de
língua; enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva; desvios
sintáticos; estrangeirismos,
neologismos; subordinação de fonemas; construções nominais,
infinitivas e no gerúndio; metáforas ousadas,
personificações, hipérboles estética não aristotélica na fase futurista.
O movimento artístico denominado Modernismo, em Portugal, iniciou em
1910, numa época de instabilidade política, em que o país mudava seu regime
político de monarquia para república. Porém, o ponto culminante do início desse
movimento deu-se em 1915, com a publicação da revista Orfeu, que tinha entre seus escritores Mário de Sá Carneiro,
Fernando Pessoa Luís de Montalvor, Almada Negueiros e até o brasileiro Ronald de
Carvalho, todos com o objetivo de revolucionar e de atualizar a cultura
portuguesa no cenário europeu. Assim como o Modernismo brasileiro,
principalmente no âmbito da literatura, surge com uma poesia provocadora,
irritante, e tinha como objetivo desestabilizar a ordem política, social e
econômica da época, além de ser uma reação contra o inconformismo, o desejo de
romper com o passado, e influenciada pela efervescência cultural européia.
Assim como no modernismo brasileiro, o manifesto futurista pregava a destruição
da sintaxe, o uso de símbolos matemáticos musicais e o menosprezo por
adjetivos, advérbios e pontuação. Possuiu três fases distintas: A primeira
fase, denominada orfeísmo, foi
composta pelos escritores responsáveis pela revista Orpheu, e por trazer Portugal de volta às discussões culturais na
Europa; a segunda fase, o presencismo, integrado por aqueles que ficaram fora
da revista Orfeu, buscavam aprofundar
a discussão sobre a teoria da literatura e sobre novas formas de expressão
artística sem romper com as idéias da geração anterior e a terceira fase, a
neo-realista, combateu diretamente o fascismo, defendeu uma literatura crítica
que estivesse a serviço da sociedade, extremamente próxima a proposta do
realismo brasileiro. Foi da primeira fase que participou um dos maiores poetas
da história de Portugal, Fernando pessoa, o que melhor soube apresentar em
versos os íntimos da contradição de ser humano.
Após
discorrer sobre o processo de heteronímia, as características temáticas,
estilísticas dos principais heterônimos de Pessoa, bem como se deu o surgimento do Modernismo Português e suas
especificidades, é pertinente que se faça uma análise possível das poesias: O Guardador de rebanhos (parte I) de
Caeiro, Passagem das Horas de Álvaro
de Campos e Para ser
grande ser inteiro de Ricardo Reis.
O Guardador de rebanhos
(Alberto Caeiro, 1911-1912)
I
Eu nunca guardei
rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr do Sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
É se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me veem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr do Sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
É se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me veem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
Após conhecer as características da
poesia de Caeiro, o aluno deverá seguir as seguintes etapas de leitura: A
decodificação, leitura superficial; anotar as palavras desconhecidas para melhor
conceituá-las; compreensão, discussão coletiva e primeiras impressões sobre a
poesia, ele deverá buscar as respostas no próprio texto através das pistas
contidas nele e
por último fazer analogia e comparações estabelecendo um paralelo com as
características da obra do autor estudado.
O aluno deverá perceber que o poeta, compara-se a um pastor que anda
pelos campos a guardar rebanhos e que seus rebanhos são seus pensamentos. O
sujeito poético identifica-se bastante com a natureza, pois anda ao ritmo das estações,
compara os seus estados de espírito com momentos de natureza. Além disso, deve
identificar o desejo de abolir a consciência, refutando o vicio de pensar e
lamentando o fato de ter consciência dos seus pensamentos, enunciando o ato de
sentir em detrimento ao pensar. O poema situa-nos desde o início nos domínios
da metáfora: o pastor-poeta, o rebanho-ideias, o papel-pensamento.
Em seguida, apresentar trecho da poesia Passagem das horas, de Álvaro de Campos. Seguindo as mesmas etapas
de leitura proposta anteriormente.
Passagem das horas
(Álvaro de Campos)
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde,
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente...
Yat-lô--ô-ôôô-ô-ô-ô-ô-ô-ô...Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade...
A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol...
Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
Tempestades em torno ao Guardafui...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente...
Yat-lô--ô-ôôô-ô-ô-ô-ô-ô-ô...Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade...
A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol...
Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
Tempestades em torno ao Guardafui...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
O aluno deverá perceber o poema Passagem das horas, pertence a fase
sensacionalista do autor, em que questiona suas angústias, desejos, pensamentos
e lembranças que permeiam o ser humano em toda a sua existência. O eu-lírico mergulha
numa viagem a seu próprio interior na busca do auto-conhecimento, redescobrindo
a vida, a morte e o recomeço. A questão da identidade e da representação do
tempo perpassa por um imaginário utópico. O tempo é compreendido como se a
realidade pudesse ganhar sentido deslocando-se de um presente para o outro, o
passado não existe porque há a movimentação dos seres e dos objetos. Passagem
das horas possui o lema do sensacionalismo, sem implicação do tempo num só
momento.
Encerramos a sequência didática
apresentando o poema Para ser grande ser
inteiro de Ricardo Reis, propondo as etapas de leitura do início.
Para
ser grande, sê inteiro
(Ricardo Reis)
Para
ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe
quanto és
No mínimo que fazes.
No mínimo que fazes.
Assim
em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Brilha, porque alta vive.
Ricardo
Reis entre os heterónimos de Pessoa é o que prega ensinamentos nobres
influenciado pela herança clássica do homem desde os gregos e romanos. Assim
como Caeiro, aceita a vida sem pensar, porém senti em si a opressão da natureza
e da vida e ressente-se com ela isso ocasiona em si um sofrimento de perda.
Reis confia em deuses à maneira dos clássicos, em que os deuses exprimem a
desconfiança nos homens. O aluno deve perceber o paradoxo que perpassa o poema. Ao mesmo tempo
em que Reis se defende não haver fé em que o homem seja inteiro por outro lado
afirma que não sejamos inteiros numa fé sem causa. Na filosofia de Reis o homem
deverá encontrar nobreza no seu sofrimento, aceitando a dor da vida de maneira
inteira, mesmo que não seja inteiro em sua fé. Nesse sentido, deve ser forte em
ser inteiro na realidade. Nessa aceitação da dor o homem pode abdicar de tudo
menos de si próprio. O que deve ser excluído da vida são as ilusões porque o
leva a humilhação, como a religião e o amor.
Compreendemos que o
desenvolvimento da prática leitora deve está fundamentado nas reais
necessidades dos alunos e cabe ao professor viabilizar condições para um ensino
interativo. Para atingir esse objetivo, é necessário, antes de tudo, que a
proposta supere o tradicionalismo, em outras palavras, é preciso que os
professores busquem estratégias que viabilizem o gosto pela leitura, bem como motivar
os alunos a buscar suas próprias significações a partir do texto literário.
Nessa perspectiva, estabelecer metas para leituras considerando os
conhecimentos prévios. Por fim ratificamos a necessidade de uma prática em que
o ato de ler se torne para os alunos uma prática significante e uma motivação
para outras leituras, bem como, um recurso para a formação de leitores
conscientes, criativos que seja capaz de compreender, analisar e atuar mais
efetivamente na sociedade.
Bibliografia
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Rio de Janeiro: Thex, 2005.
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outros eus: seleção poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
DE ALMEIDA, Rogério. Fernando Pessoa e o
Pós Moderno: Uma leitura Mítico-Simbólica da Heteronímia. Revista Mackenzie
de Educação, Arte e História da Cultura, São Paulo,v. 5. n.516, 2006.
Fernando Pessoa. Tábua Bibliográfica. Presença, nº 17. Coimbra: Dez. 1928 (ed. facsimil. Lisboa:
Contexto, 1993). Disponível em: < arquivopessoa.net/textos/2700>
Data de acesso: 07/07/2012.
INFANTE, U. Texto: leitura e escrita.São Paulo:
Scipione, 2000.
KLEIMAN, A. Texto
& Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 9 ed. Campinas: Pontes, 2004.
LEFFA. Vilson. Aspectos
da leitura. Porto Alegre: Sangra Luzzatto, 1996.
PAULINO, Graça; WALTY, Ivete; CURY, Maria
Zilda. Intertextualidade e História Literária. in: Intertextualidades:
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Coleção Letras.
PESSOA, Fernando. O Eu profundo e os outros eus,
seleção e nota editorial [de] Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1980.
PUCCINI, Ítalo. O Modernismo português e
Fernando Pessoa. Mafuá – Revista de Literatura em Meio Digital, Santa
Catarina, n.9, 2008. Disponível em:<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/mafua/article/view/1451> Acesso em: 13/06/2012.
SEGOLIN, Fernando. Fernando Pessoa: Poesia, Transgressão, Utopia. São Paulo: EDUC,
1992.
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