sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Modernismo da teoria a prática.



OFICINA DE LITERATURA


Por: Valéria Queiroz Menezes


1. TEMA: O Modernismo da teoria a prática.

2. OBJETIVOS:

2.1. Gerais: Para o entendimento e compreensão de como se deu o Modernismo no Brasil, sua perspectiva de rompimento de paradigmas e a nova proposta de uma arte voltada para o nacionalismo, para o intimismo, para a reflexão do mundo e da sociedade e suas relações com o momento histórico, político e social em que surge essa escola literária é necessário além de discutir suas características identifica-las no próprio texto viabilizando, dessa maneira, um melhor entendimento as questões propostas na prova de Literatura dos vestibulares e no ENEM.

2.2. Específicos:

- Despertar para a prática da leitura e do debate crítico das produções literárias que constitui a base para a efetiva apropriação da linguagem oral e escrita; 

- Identificar nos textos selecionados de autores das três fases que compuseram o Modernismo no Brasil sistematizando o conhecimento teórico e utilizando na prática, ou seja, na própria analise dos textos. 

- Estender os horizontes dos vestibulandos numa perspectiva de dinamizar, contribuir e melhorar, de maneira mais consciente, a sua interação com a arte e suas propostas de ver o mundo. 


3. Materiais e Métodos

3.1. Materiais:

- Esquemas teóricos utilizados nas aulas sobre o Modernismo;

- Textos fotocopiados dos autores das três fases do Modernismo;

Textos Selecionados:

Texto 01: O Poeta Come Amendoim
Autor: Mário de Andrade (1ª Fase Modernista)

Texto 02: José

Autor: Carlos Drummond de Andrade (2ª Fase Modernista)

Texto 03: Cidadezinha Qualquer

Autor: Carlos Drummond de Andrade (2ª Fase Modernista)

Texto 04: Eu não existo sem você

Autor: Vinícius de Moraes (2ª Fase Modernista)

Texto 05: Persona

Autora: Clarisse Lispector (3ª Fase Modernista)

Texto 06: Trecho de Grande Sertão Veredas

Autora: Guimarães Rosa (3ª Fase Modernista)

- Quadro branco e pinceis para quadro branco;

- TV Pen Drive

- Micro-sisten

- Textos narrados (Cd)

1. Semana da Arte Moderna, (Diálogos da minissérie “Um só coração” exibida pela Emissora Globo);

2. “O poeta come amendoim”, de Mário de Andrade, por Renata Sorrah;

3. “Cidadezinha Qualquer”, de Carlos Drummond de Andrade, por Tom Zé;

4. “José” de Carlos Drummond de Andrade, por Paulo Dinis;

5. “Eu não existo sem você” de Vinicius de Morais, por Oswaldo Montenegro;

6. “Grande Sertão Veredas” (Diálogo da Minissérie exibida na Globo em 1985)

7. “Persona” de Clarice Lispector, por Araci Balabanian


2.2. Métodos

- Primeiro momento: explicar aos vestibulandos a proposta da oficina e como serão feitas as atividades, delimitando o tempo para cada ação.

- Em segundo lugar: uma breve retomada da parte teórica trabalhada previamente na sala de aula.

- Identificar nos textos características das fases do Modernismo, partindo do referencial teórico.

- Em último momento: discussão e a conclusão da atividade.


Textos:

O Poeta Come Amendoim 


Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim 
De palavras incertas num remeleixo
melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas
Pelos meus dentes bons...
Molham meus beiço que dão beijos
Alastrados
E depois semitoam sem malícia as 
Rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque seja minha
Pátria,
Pátria é a casa de migrações e do
Pão nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é ritmo do
Meu braço aventuroso
O gosto dos meus descansos
O balanço das minhas cantigas
Amores e danças.
Brasil que eu sou porque é minha
Expressão muito engraçada,
Porque é meu sentimento
Pachorrento,
Porque é meu jeito de ganhar
Dinheiro, Eu Sou Trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, 
As sensações renascem de si mesmas sem repouso, 
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! 

Abraço no meu leito as milhores palavras, 
E os suspiros que dou são violinos alheios; 
Eu piso a terra como quem descobre a furto 
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos! 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, 
Mas um dia afinal eu toparei comigo... 
Tenhamos paciência, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa, 
E então minha alma servirá de abrigo.

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão 
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

                                                                  Persona
Não, não pretendo falar do filme de Bergman. Também emudeci ao sentir o dilaceramento de culpa de uma mulher que odeia seu filho, e por quem este sente um grande amor. A mudez que a mulher escolheu para viver a sua culpa: não quis falar, o que aliviaria o seu sofrimento, mas calar-se para sempre como castigo. Nem quero falar da enfermeira que, se a princípio tinha a vida assegurada pelo futuro marido e filhos, absorve no entanto a personalidade da que escolhera o silêncio, transforma-se numa mulher que não quer nada e quer tudo – e o nada o que é? e o tudo o que é? Sei, oh sei que a humanidade se extravasou desde que apareceu o primeiro homem. Sei que a mudez, se não diz nada, pelo menos não mente, enquanto as palavras dizem o que não quero dizer. Também não vou chamar Bergman de genial. Nós, sim, é que não somos geniais. Nós que não soubemos nos apossar da única coisa completa que nos é dada ao nascimento: o gênio da vida. 

Vou falar da palavra pessoa, que persona lembra. Acho que aprendi o que vou contar com meu pai. Quando elogiavam demais alguém, ele resumia sóbrio e calmo: é, ele é uma pessoa. Até hoje digo, como se fosse o máximo que se pode dizer de alguém que venceu numa luta, e digo com o coração orgulhoso de pertencer à humanidade: ele, ele é um homem. Obrigada por ter desde cedo me ensinado a distinguir entre os que realmente nascem, vivem e morrem, daqueles que, como gente, não são pessoas. 

Persona. Tenho pouca memória, por isso já não sei se era no antigo teatro grego que os atores, antes de entrar em cena, pregavam ao rosto uma máscara que representava pela expressão o que o papel de cada um deles iria exprimir. 

Bem sei que uma das qualidades de um ator está nas mutações sensíveis de seu rosto, e que a máscara as esconde. Por que então me agrada tanto a idéia de atores entrarem no palco sem rosto próprio? Quem sabe , eu acho que a máscara é um dar-se tão importante quanto o dar-se pela dor do rosto. Inclusive os adolescentes, estes que são puro rosto, à medida que vão vivendo fabricam a própria máscara. E com muita dor. Porque saber que de então em diante se vai passar a representar um papel é uma surpresa amedrontadora. É a liberdade horrível de não ser. E a hora da escolha. 

Mesmo sem ser atriz nem ter pertencido ao teatro grego – uso uma máscara. Aquela mesma que nos partos de adolescência se escolhe para não se ficar desnudo para o resto da luta. Não, não é que se faça mal em deixar o próprio rosto exposto à sensibilidade. Mas é que esse rosto que estava nu poderia, ao ferir-se, fechar-se sozinho em súbita máscara involuntária e terrível. É, pois, menos perigoso escolher sozinho ser uma pessoa. Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivela a máscara daquilo que se escolheu para representar-se e representar o mundo, o corpo ganha uma nova firmeza, a cabeça ergue-se altiva como a de quem superou um obstáculo. A pessoa é. 

Se bem que pode acontecer uma coisa que me humilha contar. 

É que depois de anos de verdadeiro sucesso com a máscara, de repente – ah, menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou uma palavra ouvida – de repente a máscara de guerra de vida cresta-se toda no rosto como lama seca, e os pedaços irregulares caem como um ruído oco no chão. Eis o rosto agora nu, maduro, sensível quando já não era mais para ser. E ele chora em silêncio para não morrer. Pois nessa certeza sou implacável: este ser morrerá. A menos que renasça até que dele se possa dizer “esta é uma pessoa”. Como pessoa teve que passar pelo caminho de Cristo. 

Trecho de Grande Sertão Veredas

"O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra, montão."
(p.20)

"Eu queria decifrar as coisas que são importantes.E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. O que induz a gente para más ações estranhas, é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!" (p. 74)




Cidadezinha Qualquer 


Casas entre bananeiras 
mulheres entre laranjeiras 
pomar amor cantar 

Um homem vai devagar. 
Um cachorro vai devagar. 
Um burro vai devagar. 

Devagar . . . as janelas se olham. 

Eta vida besta, meu Deus.




Fontes:

ANDRADE, Mário. O poeta como Amendoim. Disponível em: http://www.klickescritores.com.br/pag_imortais/marioandrade_obra.ht

Carlos Drummond, de Andrade: JOSÉ E agora, José? 



Morais, Vinicius. Eu não existo sem você. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/vinicius_de_moraes/

ROSA, Guimarães. Grandes Sertão Veredas. Disponível em:  
< http://chicagrauna.blogspot.com/2009/02/coracao-da-gente-o-escuro-escuros.html>

Um comentário:

  1. Adorei a aula, vou guardá-la para um dia por em prática. Pode?
    Vai que qualquer dia eu dê aula para o ensino médio? Adooro!

    Beijos.

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