sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Modernismo da teoria a prática.



OFICINA DE LITERATURA


Por: Valéria Queiroz Menezes


1. TEMA: O Modernismo da teoria a prática.

2. OBJETIVOS:

2.1. Gerais: Para o entendimento e compreensão de como se deu o Modernismo no Brasil, sua perspectiva de rompimento de paradigmas e a nova proposta de uma arte voltada para o nacionalismo, para o intimismo, para a reflexão do mundo e da sociedade e suas relações com o momento histórico, político e social em que surge essa escola literária é necessário além de discutir suas características identifica-las no próprio texto viabilizando, dessa maneira, um melhor entendimento as questões propostas na prova de Literatura dos vestibulares e no ENEM.

2.2. Específicos:

- Despertar para a prática da leitura e do debate crítico das produções literárias que constitui a base para a efetiva apropriação da linguagem oral e escrita; 

- Identificar nos textos selecionados de autores das três fases que compuseram o Modernismo no Brasil sistematizando o conhecimento teórico e utilizando na prática, ou seja, na própria analise dos textos. 

- Estender os horizontes dos vestibulandos numa perspectiva de dinamizar, contribuir e melhorar, de maneira mais consciente, a sua interação com a arte e suas propostas de ver o mundo. 


3. Materiais e Métodos

3.1. Materiais:

- Esquemas teóricos utilizados nas aulas sobre o Modernismo;

- Textos fotocopiados dos autores das três fases do Modernismo;

Textos Selecionados:

Texto 01: O Poeta Come Amendoim
Autor: Mário de Andrade (1ª Fase Modernista)

Texto 02: José

Autor: Carlos Drummond de Andrade (2ª Fase Modernista)

Texto 03: Cidadezinha Qualquer

Autor: Carlos Drummond de Andrade (2ª Fase Modernista)

Texto 04: Eu não existo sem você

Autor: Vinícius de Moraes (2ª Fase Modernista)

Texto 05: Persona

Autora: Clarisse Lispector (3ª Fase Modernista)

Texto 06: Trecho de Grande Sertão Veredas

Autora: Guimarães Rosa (3ª Fase Modernista)

- Quadro branco e pinceis para quadro branco;

- TV Pen Drive

- Micro-sisten

- Textos narrados (Cd)

1. Semana da Arte Moderna, (Diálogos da minissérie “Um só coração” exibida pela Emissora Globo);

2. “O poeta come amendoim”, de Mário de Andrade, por Renata Sorrah;

3. “Cidadezinha Qualquer”, de Carlos Drummond de Andrade, por Tom Zé;

4. “José” de Carlos Drummond de Andrade, por Paulo Dinis;

5. “Eu não existo sem você” de Vinicius de Morais, por Oswaldo Montenegro;

6. “Grande Sertão Veredas” (Diálogo da Minissérie exibida na Globo em 1985)

7. “Persona” de Clarice Lispector, por Araci Balabanian


2.2. Métodos

- Primeiro momento: explicar aos vestibulandos a proposta da oficina e como serão feitas as atividades, delimitando o tempo para cada ação.

- Em segundo lugar: uma breve retomada da parte teórica trabalhada previamente na sala de aula.

- Identificar nos textos características das fases do Modernismo, partindo do referencial teórico.

- Em último momento: discussão e a conclusão da atividade.


Textos:

O Poeta Come Amendoim 


Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim 
De palavras incertas num remeleixo
melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas
Pelos meus dentes bons...
Molham meus beiço que dão beijos
Alastrados
E depois semitoam sem malícia as 
Rezas bem nascidas...
Brasil amado não porque seja minha
Pátria,
Pátria é a casa de migrações e do
Pão nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é ritmo do
Meu braço aventuroso
O gosto dos meus descansos
O balanço das minhas cantigas
Amores e danças.
Brasil que eu sou porque é minha
Expressão muito engraçada,
Porque é meu sentimento
Pachorrento,
Porque é meu jeito de ganhar
Dinheiro, Eu Sou Trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, 
As sensações renascem de si mesmas sem repouso, 
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! 
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! 

Abraço no meu leito as milhores palavras, 
E os suspiros que dou são violinos alheios; 
Eu piso a terra como quem descobre a furto 
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos! 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, 
Mas um dia afinal eu toparei comigo... 
Tenhamos paciência, andorinhas curtas, 
Só o esquecimento é que condensa, 
E então minha alma servirá de abrigo.

JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão 
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

                                                                  Persona
Não, não pretendo falar do filme de Bergman. Também emudeci ao sentir o dilaceramento de culpa de uma mulher que odeia seu filho, e por quem este sente um grande amor. A mudez que a mulher escolheu para viver a sua culpa: não quis falar, o que aliviaria o seu sofrimento, mas calar-se para sempre como castigo. Nem quero falar da enfermeira que, se a princípio tinha a vida assegurada pelo futuro marido e filhos, absorve no entanto a personalidade da que escolhera o silêncio, transforma-se numa mulher que não quer nada e quer tudo – e o nada o que é? e o tudo o que é? Sei, oh sei que a humanidade se extravasou desde que apareceu o primeiro homem. Sei que a mudez, se não diz nada, pelo menos não mente, enquanto as palavras dizem o que não quero dizer. Também não vou chamar Bergman de genial. Nós, sim, é que não somos geniais. Nós que não soubemos nos apossar da única coisa completa que nos é dada ao nascimento: o gênio da vida. 

Vou falar da palavra pessoa, que persona lembra. Acho que aprendi o que vou contar com meu pai. Quando elogiavam demais alguém, ele resumia sóbrio e calmo: é, ele é uma pessoa. Até hoje digo, como se fosse o máximo que se pode dizer de alguém que venceu numa luta, e digo com o coração orgulhoso de pertencer à humanidade: ele, ele é um homem. Obrigada por ter desde cedo me ensinado a distinguir entre os que realmente nascem, vivem e morrem, daqueles que, como gente, não são pessoas. 

Persona. Tenho pouca memória, por isso já não sei se era no antigo teatro grego que os atores, antes de entrar em cena, pregavam ao rosto uma máscara que representava pela expressão o que o papel de cada um deles iria exprimir. 

Bem sei que uma das qualidades de um ator está nas mutações sensíveis de seu rosto, e que a máscara as esconde. Por que então me agrada tanto a idéia de atores entrarem no palco sem rosto próprio? Quem sabe , eu acho que a máscara é um dar-se tão importante quanto o dar-se pela dor do rosto. Inclusive os adolescentes, estes que são puro rosto, à medida que vão vivendo fabricam a própria máscara. E com muita dor. Porque saber que de então em diante se vai passar a representar um papel é uma surpresa amedrontadora. É a liberdade horrível de não ser. E a hora da escolha. 

Mesmo sem ser atriz nem ter pertencido ao teatro grego – uso uma máscara. Aquela mesma que nos partos de adolescência se escolhe para não se ficar desnudo para o resto da luta. Não, não é que se faça mal em deixar o próprio rosto exposto à sensibilidade. Mas é que esse rosto que estava nu poderia, ao ferir-se, fechar-se sozinho em súbita máscara involuntária e terrível. É, pois, menos perigoso escolher sozinho ser uma pessoa. Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivela a máscara daquilo que se escolheu para representar-se e representar o mundo, o corpo ganha uma nova firmeza, a cabeça ergue-se altiva como a de quem superou um obstáculo. A pessoa é. 

Se bem que pode acontecer uma coisa que me humilha contar. 

É que depois de anos de verdadeiro sucesso com a máscara, de repente – ah, menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou uma palavra ouvida – de repente a máscara de guerra de vida cresta-se toda no rosto como lama seca, e os pedaços irregulares caem como um ruído oco no chão. Eis o rosto agora nu, maduro, sensível quando já não era mais para ser. E ele chora em silêncio para não morrer. Pois nessa certeza sou implacável: este ser morrerá. A menos que renasça até que dele se possa dizer “esta é uma pessoa”. Como pessoa teve que passar pelo caminho de Cristo. 

Trecho de Grande Sertão Veredas

"O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra, montão."
(p.20)

"Eu queria decifrar as coisas que são importantes.E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. O que induz a gente para más ações estranhas, é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!" (p. 74)




Cidadezinha Qualquer 


Casas entre bananeiras 
mulheres entre laranjeiras 
pomar amor cantar 

Um homem vai devagar. 
Um cachorro vai devagar. 
Um burro vai devagar. 

Devagar . . . as janelas se olham. 

Eta vida besta, meu Deus.




Fontes:

ANDRADE, Mário. O poeta como Amendoim. Disponível em: http://www.klickescritores.com.br/pag_imortais/marioandrade_obra.ht

Carlos Drummond, de Andrade: JOSÉ E agora, José? 



Morais, Vinicius. Eu não existo sem você. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/vinicius_de_moraes/

ROSA, Guimarães. Grandes Sertão Veredas. Disponível em:  
< http://chicagrauna.blogspot.com/2009/02/coracao-da-gente-o-escuro-escuros.html>

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A caverna de José Saramago


O autor

José de Sousa Saramago nasceu em 1922, em Azinhaga, aldeia ao sul de Portugal, numa família de camponeses.

Autodidata, antes de se dedicar exclusivamente à literatura trabalhou como serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção numa editora.

Iniciou sua atividade literária em 1947, com o romance Terra do Pecado, só voltando a publicar (um livro de poemas) em 1966.


Atuou como crítico literário em revistas e trabalhou no Diário de Lisboa. Em 1975, tornou-se diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Acuado pela ditadura de Salazar, a partir de 1976 passou a viver de seus escritos, inicialmente como tradutor, depois como autor.


Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, visto hoje como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois.

Em 1991, publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português - o que leva Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde viveu até a morte. Foi ele o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.

Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7).
Morreu em 18 de junho de 2010, em Lanzarote, Espanha.

A CAVERNA DE SARAMAGO
POR: VALÉRIA QUEIROZ E BÁRBARA PAIXÃO

Resumo d’ A caverna, de José Saramago

            Cipriano Algor, protagonista d’A caverna,de José Saramago, viveu com sua família, durante algum tempo, da fabricação de utensílios domésticos de barro fornecidos ao Centro. A certa altura, porém, foi informado de que os seus produtos tinham sido preteridos pelos de plástico, mais atraentes para os consumidores do comércio local.
            O oleiro recusa a idéia de viver às custas da filha, Marta, e do genro, Marçal Gacho. Ao mesmo tempo, não tem como sobreviver com seu próprio trabalho e nem condições para realizar   seu desejo de unir-se a Isaura. Essa situação leva-o à depressão.
Para reanimar o pai, numa tentativa de que Cipriano se mantenha no mercado do Centro de Compras, Marta sugere que ele se dedique à fabricação de estatuetas e ajuda-o nesta nova empresa. Inicialmente o empreendimento é bem sucedido, mas, pouco depois, o resultado de uma pesquisa, realizada para saber do interesse dos consumidores pelos produtos,  frustra os esforços do artesão e de seus familiares.
Marçal é promovido, como desejava, a guarda residente e muda-se para o Centro com Marta. Sem ter como sobreviver, contra a sua vontade, Algor acompanha o casal e vai viver também no local em que, antes, só entrava,  pelos fundos, como fornecedor, ou como eventual consumidor, que sabe exatamente o que quer e onde adquirir. Sem ter com que se ocupar e com liberdade de trânsito, Cipriano passa a percorrer e a conhecer o lugar e suas atrações. Nas suas andanças, descobre, numa das galerias, os seis corpos humanos, em condições que lembram as figuras descritas por Platão n’ A república, encontrados por ocasião das  escavações para ampliação das instalações do Centro, mantidos em segredo. Sob o efeito  do choque, o oleiro desiste de morar lá. Seu genro e sua filha acompanham-no em sua decisão. Os três na companhia de Isaura e do cão Achado partem  em busca de um novo espaço para recomeçarem suas vidas.


RESUMO DA ANÁLISE


Propomos ao longo desse trabalho abordar alguns pontos relevantes do romance A Caverna do escritor português José Saramago tais como: os principais aspectos do contexto histórico cultural focalizado no romance e no contexto em que foi publicado. Comentar a estrutura da narrativa, destacando o intertexto com o mito da caverna de Platão bem como abordar como se desenvolve no texto a problematização da história e da representação literária, apresentando os principais aspectos que são implicados no processo de globalização, definindo esse conceito e demonstrando a perspectiva critica do autor a cerca desse fenômeno. Ao abordar esses pontos discutiremos como o autor metaforiza a criação literária e o aproxima de questões que afligem as pessoas na contemporaneidade, a partir da história de uma família de oleiros, que vê sua tradição e sustento engolidos por um grande centro comercial.

Palavras-chave: literatura, mito da caverna, globalização.

A Caverna de Saramago 

"A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem." (José Saramago) 

Fonte: Disponível em:< http://www.citador.pt> 


A Caverna do e escritor José Saramago foi publicada no ano de 2000. A obra discute o impacto social provocado por um grande centro comercial e o faz a partir da história de uma tradicional família de oleiros, que sobrevive da fabricação de utensílios domésticos de barro fornecidos ao Centro. Certo dia, porém, foram informados por um mensageiro desse grande centro, de que seus produtos não atendiam mais as demandas dos consumidores, que preferiam a praticidade dos utensílios de plástico.

Quando o Centro deixa de comprar as peças de barro, decreta a morte da Olaria, assim, Cipriano, o patriarca dessa família, não tem mais como sobreviver com seu trabalho e nem tão pouco condições de casar-se novamente, ver-se obrigado a deixar sua casa e ir morar com sua filha e seu genro, recém-promovido à guarda residente do Centro. O oleiro passa a viver nesse mundo totalmente artificial, tenta encontrar, sem êxito, uma forma de pertencimento. Sua filha Isaura, com o objetivo de reanimar seu pai, sugere que ele fabrique estatuetas, porém, o resultado de uma pesquisa de interesse dos consumidores pelos produtos frustra totalmente a família do artesão. Cipriano, sem ter com o que ocupar-se passa a percorrer esse novo mundo. Em suas andanças, descobre numa das galerias seis corpos humanos encontrados por ocasião das escavações para ampliação das instalações do Centro, perplexo, o oleiro desiste de morar lá, sua filha e seu genro assim como Isaura e o cão Achado, deixado para trás por não poder viver no Centro, partem em busca de um novo espaço para recomeçarem suas vidas.

A literatura, que tem compromisso com as questões sociais, possui a característica de revelar a verdade através de uma ótica popular, assim, o processo histórico de um país pode ser discutido dentro de um romance através de personagens fictícios os quais levam o leitor a refletir questões que afligem o ambiente social a qual ele está inserido.

Saramago utiliza a luta pela sobrevivência de uma tradicional família de oleiros, que se ver impotente em relação a uma nova ordem de mercado, para metaforizar a sociedade portuguesa contemporânea.

                                                            ... mercadorias que interessam e deixaram de interessar é uma rotina                quase diária no centro... para eles a coisa é simples, ou o produto interessa, ou o produto não interessa, o resto é indiferente, para eles não há meio termo. (SARAMAGO: 2001,65) 

O Centro comercial não leva em conta a tradição e nem os valores, as pessoas são levadas pela crença dos grandes benefícios que este pode proporcionar. O consumo reflete não apenas o desejo de atender uma necessidade, mas a noção de pertencimento, vendida pela globalização. “A organização do Centro fora concebida e montada segundo modelo de estrita compartimentação das diversas actividades e funções.” (SARAMAGO:2001, 39). O autor discute a noção de identidade no contexto da Globalização, contrapõe dois pensamentos: a da família de Algor, que não se adapta a essa nova forma de viver e a família de Marçal, que vê no Centro a possibilidade de uma velhice segura.

.
Marta disse: Estas pessoas não vêem a luz do dia quando estão em casa. As que moram nos apartamentos voltados para o interior do Centro também não... praticamente enclausurados... sem a luz do sol, a respirar ar enlatado todo dia. (SARAMAGO:2001, 278/279) 


O capitalismo é um sistema econômico baseado no bem privado dos meios de produção, na organização da produção, no trabalho assalariado e no funcionamento de um sistema de preços, cujo principal objetivo é o lucro. Em A Caverna o Centro é a representação desse sistema, retratado como algo “soberano”. “Qualquer caminho que se tome vai dar ao Centro.” (SARAMAGO. 2000. 275). O discurso do Centro consiste no interesse voltado pra aquilo que tem função útil e lucrativa para o mercado.

Segundo Linda Hutcheon (Poética do pós-modernismo. 1991. 236), o poder não é uma instituição muito menos uma estrutura. Trata-se de um processo, ela considera que os ideais pós-modernistas “invertem as classificações de poder descritas por Foucault”. A arte pós-moderna possui um discurso duplicado, afirma Hutcheon, nessa perspectiva, a arte pós-moderna critica o poder a partir dele mesmo sem deixar de estar inserido no processo. Em A Caverna, essas relações são analisadas, portanto, de duas maneiras: Os personagens refutam as formas do poder ao mesmo tempo admitem sua força.

(...) Na verdade senhor, não sei por que gasta seu precioso tempo a falar desses assuntos com um oleiro sem importância, (...) E eu estou em baixo, não fui eu quem o pôs, mas está, ao menos ainda tenho essa utilidade. (SARAMAGO. 2001. 130) 

Para demonstrar como a construção da sociedade parte do seu viés histórico, achamos relevante fazer uma retrospectiva a cerca dos acontecimentos, que levaram a culminância da Globalização. Partimos da Guerra Fria, onde o cenário mundial estruturava-se em torno das grandes potencias termonucleares. O ocidente organizava-se em torno do poder hegemônico dos Estados Unidos, cuja liderança militar contracenava com seu poderio econômico. A dissolução do bloco soviético, com o fim da Guerra Fria, descortinou novas realidades que vai prefigurar o novo século. O poder mundial tende a se concentrar em macro áreas do hemisfério norte que vai aglutinar riquezas e inovações tecnológicas, dessa maneira o poder mundial faz com que surjam blocos econômicos regionais, como a União Europeia, o Nafta e a Bacia do Pacífico. Surge assim uma nova ordem mundial cuja forma de poder era econômico, tecnológico e comercial, estabelecendo duas grandes oposições de um lado os países do Norte ricos e de outro os países pobres do Sul, os Estados Unidos o Japão e a Alemanha se destacam no cenário mundial como grandes potências econômicas, o Neoliberalismo e o Neocolonialismo separatista são revigorados. O mercado tende para regionalização e a Globalização, isso gera problemas imediatos como: xenofobia, racismo, fundamentalismo, monopólio tecnológico com instrumentos de dominação dos países do norte, narcotráfico e fome. O Neoliberalismo se consolida como uma forma possível de doutrina em países capital que consiste na supressão de livre concorrência, determinada pela formação dos monopólios, oligopólios, até de intervenção do Estado na economia. Para os neoliberais os mecanismos de mercado são capazes de organizar a vida econômica, política e social, desde de que sob a ação disciplinadora do Estado. Na prática do neoliberal há uma redução dos gastos públicos em educação, saúde e habitação, enfim, na seguridade social. A nova ordem mundial é marcada não tão somente pelo poderio bélico, mas também pelo poder econômico, essas relações estão mais intensas, e são estruturadas sobre os megablocos econômicos e geopolíticos. A globalização surge como um fenômeno espontâneo decorrente da evolução do mercado capitalista não direcionado por uma única entidade ou pessoa, possui várias linhas teóricas que tentam explicar sua origem e seu impacto no mundo atual. Segundo Giovanneti (Dicionário de Geografia. p. 93-4) a Globalização consiste:

Processo acentuado nas últimas décadas do século pela aceleração e padronização dos meios técnicos, a instantaneidade da informação e da comunicação e a mundialização da economia, e que promove a reorganização e reestruturação dos espaços nacionais e regionais, em escala mundial, a partir do controle e regulamentação dos centros hegemônicos. Para Milton Santos, essa globalização cria, como nunca ocorreu no passado, um meio técnico científico e informacional em contraposição ao meio natural; promove a transformação dos territórios nacionais em espaços nacionais da economia internacional; intensifica a especialização e a divisão social e territorial do trabalho; concentra e aumenta a produção em unidades menores, entre outros aspectos. O enfraquecimento dos Estados nacionais e o acirramento da tensão entre o local e o global, com o avanço da globalização, também é apontado pelo autor citado.

Fernando Alcoforado (Globalização, 1997, p.74) declara que o processo de globalização é uma consequência natural do desenvolvimento do capitalismo que nasceu nas entranhas do feudalismo nas cidades medievais e se expandiu, progressivamente, constituindo mercados e Estado nacionais a partir do século XV. O estágio de globalização do capital se iniciou também nessa época com as correntes de comércio que vários países europeus mantinham com o Oriente e a partir da descoberta da América por Cristóvão Colombo.

Saramago, em uma visita a Montevidéu para a divulgação de “A Caverna” declara que a globalização “É uma nova forma de totalitarismo e o pior é que não temos ideias que opor a isso; não reagimos ante o que está se passando”.

Representação Literária

No romance A Caverna a representação literária utilizada por José Saramago está envolvida por metáforas, seu estilo próprio de pontuação, a utilização de metalinguagem e intertextualidade. Como pode ser visto no fragmento abaixo:

[...] demos por terminada a nossa relação comercial, é muito simples, como vê, Sim senhor, é muito simples, oxalá estes bonecos de agora não venham a ter a mesma sorte, Tê-la-ão mais tarde ou mais cedo, como tudo na vida, o que deixou de ter serventia deita-se fora, incluindo as pessoas [...] (SARAMAGO, 2000, p. 38) 

Pode ser destacada a questão do tempo, o qual não é determinado representando apenas o período pós-moderno. Essa característica torna o romance atual, adequando se a qualquer geração em que o capitalismo esteja vigente. O espaço físico apesar de estar descrito de forma minuciosa não é determinado podendo se adequar a qualquer cidade industrializada.

O romance é entrelaçado por outros textos os quais dão a obra o valor necessário para se destacar na literatura, entre eles pode se citar a bíblia e a caverna de Platão. Esse último vem a ser o que dá sustentação á narrativa, pois aparece desde o título. O autor faz uma comparação da caverna de Platão como sendo o shopping Center onde as pessoas são induzidas a pensar que dentro dele todos têm o mesmo direito, porém a realidade fora dele é totalmente adversa, em que a desigualdade social e a falta de alternativa para aqueles que não têm oportunidade torna esse sistema autoritário.

Problematização da história

O romance tem sua problematização centrada em três pontos principais, sendo estes: substituição de produtos, novos produtos e a mudança para o cento.

[...] pode dizer-me o que é que fez que as vendas tivessem baixado tanto, Acho que foi o aparecimento ai de umas louças de plásticos a imitar o barro, imitando-no tão bem que parecem autênticas com a vantagem de que pesam muito menos e são muito mais baratas, [...] não quero afligi-lo, mas creio que a partir de agora a sua louça só interessará a colecionadores e esses são cada vez menos. (SARAMAGO, 2000, p. 05) 

Conforme se pode inferir da citação retro, as vantagens oferecidas pelos produtos de plástico deram margem ao Centro não mais adquirir aqueles produtos fabricados pela família Algor. Os Algors agora se viam em apuros, pois esses tinham um contrato de exclusividade com o Centro, que adquiriu apenas metade de sua produção e pediu para que o oleiro levasse de volta parte de sua mercadoria que ainda estava no estoque do Centro.

É possível perceber uma noção de que as coisas são descartáveis, enquanto não aparece algo melhor o que temos serve, se surgir algo melhor a primeira já perde o valor. No caso do romance, não só as coisas foram descartáveis mais sim as pessoas também, pois o Centro descartou em um primeiro plano as relações comerciais com Cipriano.

Para que continuasse a manter relações comerciais com o Centro, Cipriano viu-se obrigado a fabricar novos produtos e sob a orientação da filha poram-se a fabricar bonecos. Os novos objetos a serem fabricados exigiram dos Algors estratégias diferentes das antigas, mas apesar de todo o trabalho com a aquisição de novas formas e materiais necessários a fabricação dos bonecos, o Centro não se dispôs a adquirir na sua totalidade os bonecos anteriormente encomendados, tendo como alegação a falta de aceitação por parte dos clientes.

Com a rejeição dos produtos fabricados por Cipriano e a promoção a guarda residente do seu genro, os Algors mudaram-se para o Centro e Cipriano achou-se agora desempregado e em um novo lugar que apesar de estar ali ele não fazia parte do Centro.

[...] O Centro é todo seu, foi lhe posto uma bandeja de som e luz, pode vaguear por ele tanto quanto lhe apeteça, regalar-se de música fácil e de vozes convidativas. [...] Além de novas galerias, lojas, escadas rolantes, ponto de encontro, cafés e restaurantes. (SARAMAGO, 2000, p. 93) 

Em virtude do tempo livre e das atrações convidativas que estavam ao seu dispor no Centro, Cipriano Algor gastava seus dias a vaguear em meio a todas aquelas atrações e mesmo sem notar cada um de seus passos eram vigiados e o menor descuido era motivo de questionamentos por parte daqueles que estavam sempre a vigiar aquele ambiente. Tal vigilância faz nos lembrar a Alegoria do Panóptico, dando-nos a idéia de que todos estamos a ser vigiados, porém não sabemos por quem, tal vigilância tenta estabelecer uma ordem ao definir que o ser humano porta-se com mais destreza ao perceber que está sendo observado.

No seu “tipo ideal”, o Panóptico não permitiria qualquer espaço privado; pelo menos nenhum espaço privado opaco, nenhum sem supervisão ou, pior ainda, não passível de supervisão. (Bauman, 1999, p. 56)

Diversos são os ambientes em que podemos observar as placas “sorria você está sendo filmado”, sem ao menos sabermos por quem estamos sendo filmados ou se realmente há alguém a observar. Cipriano Algor tinha sido absorvido pelo fenômeno chamado globalização, assim como podemos inferir da citação abaixo:

A globalização está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presente e futuros... “Globalização” é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível ; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo globalizados. (BAUMAN, 1999, p. 07)

Na vida de Cipriano, os efeitos da globalização o fizeram um desempregado, excluído do mercado consumidor, sendo apenas mais um em meio a todos aqueles que também andavam pelo Centro, mas não tinham o poder aquisitivo em mãos para tornarem-se consumidores e não meramente expectadores. Esse estado de dificuldade deu-se desde que o Centro dispensou seus produtos até a luta dos Algors para a fabricação dos novos, pois como ele poderia competir de igual para com as grandes fábricas, equipadas com maquinários apropriados para a produção em série, toda uma estrutura capaz de suportar grandes encomendas, já o oleiro não dispunha de estrutura adequada para competir com os fabricantes dos tais pratos de plásticos, além da mão de obra reduzida, só podendo contar com o próprio Cipriano, a filha e o genro a cada dez dias, mediante toda essa desvantagem os Algors foram vencidos pela estrutura globalizada.

Perspectiva crítica do autor

Com essa estrutura o autor alcança o propósito de discutir a questão da globalização e os impactos que causa na sociedade. Entre muitos temas que são discutidos no romance um deles é a questão dos excluídos levando em consideração as oportunidades que esse modelo de sociedade oferece a cada individuo. Como pode ser visto na falta de opção da família Algor quando se viram obrigados a mudar para o centro. No Centro eles são assediados pela mídia e pela propaganda para que comprem e participem do sistema que movimenta a sociedade de consumo como pode ser visto no trecho abaixo.

Na fachada do centro, por cima das suas cabeças, um novo e gigantesco cartaz proclamava, VENDER-LHE-IAMOS TUDO O QUANTO VOCÊ NECESSITASE SE NÃ PREFERISSEMO OS QUE VOCÊ PRECISASSE DO QUE TEMOS PARA VENDER-LHE. (SARAMAGO, 2000, p. 84) 

Na mudança para o centro encontra se também a discussão sobre o lugar ao qual se pertence e ao qual se está fazendo parte. O sentimento de pertencer a um determinado local é representado no personagem de Cipriano Algo que sente se perdido dentro do Centro, não somente devido as variedade de atrações que se encontra, como também por seu intimo, seus pensamentos e sua vida futura que não está naquele lugar em que está o seu corpo. Para a família Algor não pertencer a lugar algum era totalmente fora de lógica. Esse sentimento é uma das características que determina a globalização e segundo BAUMAN (1988, p. 92):

Nesse mundo, todos os habitantes são nômades, mas nômades que perambulam a fim de se fixar. Além da curva, existe, deve existir, tem de existir uma terra hospitaleira em que se fixar, mas depois de cada curva surgem novas curvas, com novas frustrações e novas esperanças ainda não destrocadas.

Então a família Algor representa todo àquele que se sente perdido dentro de um sistema globalizado. Sistema esse que não há fronteira para os meios de comunicação, nem para o capitalismo, que até mesmo o homem se tornou mercadoria. No romance o autor apresenta uma saída para essa realidade; com a fuga de Cipriano Algor do Centro para ir viver seu romance com Isaura, então a esperança de saída pode ser encontrada naquilo que se ama e quem sabe encontra-se um lugar seguro e aconchegante para se viver feliz e satisfeito, mesmo que não tenha dinheiro para se comprar tudo que queira e nem se tenha certeza de como vai ser o amanhã ou as gerações futuras.


FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ALCOFORADO, Fernando. Globalização. São Paulo: Nobel, 1997.

ANDRADE, Marcos José de. CARNEIRO, Osvaldo Eduardo Teixeira. LEAL, Sônia Guedes do Nascimento . LOPES, Dulcinéia Aparecida. AS “CAVERNAS” DE PLATÃO, TRUMAN E DE SARAMAGO SOB A ÓTICA DA HIPER-REALIDADE PARA JEAN BAUDRILLARD NO MUNDO PÓS-MODERNO. Disponível em: http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/08/INIC0000153_ok.pdf. 2010.

AQUINO, Cássio Adriano Braz de. MIRANDA, Luciana Lobo. XAVIER, Monalisa Pontes. A caverna: um retrato literário da inserção do sujeito no emergente modelo de produção moderno. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pc/v22n2/09.pdf, Psic. Clin., Vol. 22. Rio de Janeiro. 2010.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Elfos, Lisboa: Edições 70, 1995.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1999.

BAUMAN, Zygmunt. . O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1998.

COIMBRA, Marcos. A Globalização e seus Efeitos. Vila em Foco. Disponível em: http://www.brasilsoberano.com.br/artigos/aglobalizacaoeseusefeitos.htm, ago. 2001.

GIOVANNETI, Lacerda; LACERDA, Madalena. Melhoramentos Dicionário de Geografia. São Paulo: Melhoramentos, 2000.

José Saramago diz que "globalização é nova forma de totalitarismo" da France Presse, em Madri. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u8857.shtml> Acesso em: 29/06/2011.

SARAMAGO, José. A caverna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.












Teoria Literária: O Formalismo Russo



Por: Valéria Queiroz Menezes

Só como fenômeno estético a existência e o
mundo aparecem eternamente justificados.

O Formalismo Russo foi uma escola de crítica literária da Rússia de 1910 até 1930. Dela fazem parte acadêmicos russos e soviéticos, tais como, Vítor Sklovski, Yuri Tynyanov, Boris Eichenbaum, Roman Jakobson e Gregory Vinokut. Caracterizado por enfatizar o papel funcional dos dispositivos literários e sua concepção de história literária, defenderam um método científico para estudar a linguagem poética excluindo assim, abordagens psicológicas e histórico-culturais. Possuía dois princípios: a literatura por ela mesma, os fatos literários devem ser priorizados sobre os compromissos metafísicos da crítica literária. Distinguiram linguagem poética de linguagem prática para os formalistas as qualidades emocionais de uma obra literária são secundárias, as combinações lingüísticas adquirem valor nelas mesmo. Assim, rompe com a estética, a ciência do belo e a filosofia. As principais noções do Formalismo são: a noção de estranhamento, isto é, a desautomatização que a obra causa e a literalidade, que constitui no fato o qual garante a literatura como ela é. Os formalistas propuseram em forma de arte, uma própria renovação no estudo do signo, tentaram entender dentro do texto como ele foi construído de um ponto de vista fonético e fonológico não levando em conta o contexto. A recepção do Formalismo Russo na Europa aconteceu quarenta anos depois dos formalistas iniciarem seus estudos.
            O New Criticism refere-se invariavelmente aos nomes e aos trabalhos dos críticos americanos John Growe Ranson, Willian K. Wimsatt, Cleanth Penn Warren e ao do filósofo Monroe Beardsley, os quais escreveram as suas obras mais influentes durante as décadas de 40 e 50. A designação surgiu a partir do título de uma das obras de John Growe Ranson, publicada em 1941.
            Segundo o New Criticism uma das qualidades da poesia é a tensão, Brooks ressalta o que se deve destacar no texto: tensões, paradoxos, ambivalências, ironia. A inversão associada à linguagem afetiva. Segundo os críticos essa massificação propõe a falácia da comunicação, e esta se dá de duas maneiras: intencional que constitui um erro da crítica literária que apenas aprecia uma obra de arte em função da intenção originais do autor e a afetiva, isto é, quando se produz juízos críticos condicionados por valores afetivos. Deve-se segundo os New Criticism, buscar a inferência e o porquê da relação entre o ritmo e a proposta temática, alcançar a abstração.
            Quando melhor for a relação do tema com a estrutura do texto, desvio, estranhamento, a in-tesão, isto é, tensão interna do poema melhor será a obra de arte. A poesia, nesta perspectiva, produz a morte semântica dando lugar ao estudo da forma.
            O Estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou no modelo da Lingüística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. O termo “estruturalismo” origina-se no Cóurs de Linguiste Génerale de Ferdinand de Saussure.
            Surge como uma forma de reação contra o estudo genético da literatura e contra abordagens extrínsecas aparece como uma afirmação imanentista em crítica literária. O objeto constitui, segundo os estruturalistas, um sistema de relações, um todo. O Estruturalismo cria um método ou análise formal de um objeto.
            Roman Jakobson escreveu uma das mais relevantes considerações da postura formalista, a qual define poesia como linguagem em sua função estética. Desse modo, o objeto de estudo literário não era a literatura, mas a literalidade, ou seja, aquilo que torna determinada obra uma obra literária. Da mesma forma que os formalistas não admitiam nenhuma informação que fosse extra textual assim os fizeram os News Criticism que não admitiam nenhuma outra informação além da contida no texto, a crítica estruturalista foi influenciado pelo Formalismo Russo distinguia-se por analisar as obras literárias por meio da ciência dos signos, isto é a relação subjacente dos elementos.
Pode-se concluir, que tanto o Formalismo, quanto o New Criticism e o Estruturalismo buscavam uma análise do objeto por ele mesmo, a subjetividade, fatos históricos etc. não interferiam na formação do belo a arte era analisada por ela mesma.

           A obra a seguir, Família, é de autoria de Pablo Picasso, principal expoente do Cubismo, movimento artístico que ocorreu entre 1907 e 1914. Movimento Vanguardista que influenciara correntes literárias na Europa. O cubismo tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando as partes de um objeto no mesmo plano. A representação do mundo passava a não ter nenhum compromisso com a aparência real das coisas, dessa forma sugere a estrutura dos corpos, dessa forma sugere a estrutura dos corpos ou objetos. Privilegia a forma. Os elementos eram decompostos em partes, dessa maneira o artista registra todos os elementos em planos sucessivos e superpostos, esta fragmentação foi tão grande que aos poucos se tornou impossível o reconhecimento de qualquer figura nas pinturas cubistas. Reagindo a essa fragmentação e tentando rejeitar  a destruição da estrutura, o Cubismo sintético procura tornar as figuras novamente reconhecíveis, introduz como numa colagem, letras, palavras, etc. intencionando ultrapassar os limites das sensações visuais.
           O Cubismo foi um movimento vanguardista que influenciou a crítica literária. É possível afirmar que o New Criticism, movimento da teoria literária, surgido nos anos 20 nos Estados Unidos, possuía princípios que perpassava por ideais cubistas. Ele propõe, assim com os cubistas, separação do objeto artístico do autor rompendo com o biografismo, rejeita os contextos sociais ou culturais, privilegia a análise do objeto em si.
         É possível também afirmar que tanto o Estruturalismo quanto o Formalismo Russo adotaram preceitos cubistas, na medida que podemos afirmar que a forma era privilegiada em detrimento ao contexto. A obra de arte se constituía como tal a partir do momento em que provocasse a desautomatização. Desse modo a obra de arte assim como a obra literária era considerada em sua função estética, o belo por si mesmo. A obra de arte deveria se afastar de quaisquer aspectos que não fosse centrado nela. Assim, era um fato material plausível de análise como diria os Formalistas.





Florbela Espanca




                                                                                                       Florbela Espanca

Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!



Escreve-me!  Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!



"Amo-te! "Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!



Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...

Cinco pétalas roxas de saudade...


BIOGRAFIA


Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 - Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930), batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa.

Filha de Antónia da Conceição Lobo, empregada de João Maria Espanca, que não a reconheceu como filha. Porém com a morte de Antónia em 1908, João e sua mulher Maria Espanca criaram a menina. O pai só reconheceria a paternidade muitos anos após a morte de Florbela.

Em 1903 Florbela Espanca escreveu o primeiro poema de que temos conhecimento, A Vida e a Morte. Casou-se no dia de seu aniversário em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se a seguir no curso de Direito, sendo a primeira mulher a frequentar este curso na Universidade de Lisboa.

Sofreu um aborto involuntário em 1919, ano em que publicaria o Livro de Mágoas. É nessa época que Florbela começa a apresentar sintomas mais sérios de desequilíbrio mental. Em 1921 separou-se de Alberto Moutinho, passando a encarar o preconceito social decorrente disso. No ano seguinte casou-se pela segunda vez, com António Guimarães.

O Livro de Soror Saudade é publicado em 1923. Florbela sofreu novo aborto, e seu marido pediu o divórcio. Em 1925 casou-se pela terceira vez, com Mário Laje. A morte do irmão, Apeles (num acidente de avião), abala-a gravemente e inspira-a para a escrita de As Máscaras do Destino.

Tentou o suicídio por duas vezes em outubro e novembro de 1930, às vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de Dezembro de 1930, utilizando uma dose elevada de veronal. Charneca em Flor viria a ser publicado em Janeiro de 1931.

Precursora do movimento feminista em Portugal, teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.



BIBLIOGRAFIA


* Livro de Mágoas, Lisboa, Tipografia Maurício, 1919.

* Livro de Mágoas Sóror Saudade, Lisboa, Tipografia A Americana, 1923.

* Charneca em Flor, Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

* Charneca em Flor (com 28 sonetos inéditos), Coimbra, Livraria G
onçalves, 1931.

* Cartas de Florbela Espanca, (a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli), Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

* As Máscaras do Destino, Porto, Editora Maranus, 1931.

* Sonetos Completos, (Livro de Mágoas, Livro de Sóror Saudade, Charneca em Flor, Reliquiae), Coimbra, Livraria Gonçalves, 1934.

* Cartas de Florbela Espanca, Lisboa, Edição dos Autores, s/d, prefácio de Azinhal Abelho e José Emídio Amaro(1949).

* Diário do último ano, Lisboa, Bertrand, 1981, prefácio de Natália Correia.

* O Dominó Preto, Lisboa, Bertrand, 1982, prefácio de Y. K. Centeno.

* Obras Completas de Florbela Espanca, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1985-1986, 08 vols., edição de Rui Guedes.

* Trocando Olhares, Lisboa, Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1994; estudo introdutório, estabelecimento de textos e notas de Maria Lúcia Dal Farra.







     "Florbela", de Vicente Alves do Ó, ultrapassou a barreira dos 40 mil espectadores. Este feito foi anunciado pela Ukbar Filmes, através da sua página do Facebook, que aproveitou a ocasião para realçar o facto de "Florbela" ainda estar em circuito comercial, nomeadamente no Cinema City Alvalade. Este resultado sonoro promete não ficar por aqui, visto que o filme ainda continua o seu percurso em tournée com debates com o realizador e elenco pelo país, uma iniciativa que tem sido bem sucedida e marcada por salas cheias. 
[...] o filme apresenta uma rara beleza, mesclando um argumento interessante, excelentes interpretações e um trabalho muito seguro de Vicente Alves do Ó, que envolvem o espectador numa obra cinematográfica apaixonante. A aderência do público apenas vem confirmar a qualidade do projeto e o excelente trabalho que tem vindo a ser feito a nível da divulgação do filme, sendo notório o esforço de todos os envolvidos em procurarem chegar o mais próximo possível do público e a terem orgulho em mostrar o seu trabalho.



FANATISMO

                                   Florberla Espanca

Minh' alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
pois que tu és já toda minha vida
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina, fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como um deus: princípio e fim!...